Sessão especial foi realizada em conjunto com a ALPB, e proposta pelo vereador Marcos Henriques e a deputada Cida Ramos (ambos do PT)
A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) discutiu, na manhã desta quarta-feira (24), o fechamento de agências bancárias e o alto número de demissões no segmento bancário. A sessão especial, proposta pelo vereador Marcos Henriques (PT), foi realizada em conjunto com a Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba (ALPB), representada pela deputada Cida Ramos (PT).
O vereador Marcos Henriques afirmou que o fechamento de agências causa demissões em massa e que, o que parece uma reestruturação de mercado, é um processo que traz consequências para a economia local, o emprego formal, o atendimento à população e o direito ao trabalho digno. Ele destacou que o setor bancário caminha na contramão do mercado formal de empregos.
Segundo Marcos Henriques, enquanto o setor bancário tem demissões em massa, o mercado brasileiro cria, cada vez mais, novas vagas de trabalho. “Se isso continuar, nossa categoria vai desaparecer. Enquanto a economia nacional respira, os bancos privados apertam o torniquete, fecham agências e reduzem a guarda, sem atendimento presencial. Cada agência que fecha é mais do que uma porta trancada, é a negação de um serviço essencial para quem depende do contato humano, para quem não domina aplicativos, para quem precisa de orientação direta”, declarou o vereador, salientando que os bancos usam o pretexto do uso da tecnologia para reduzir empregos e transferir custos ao consumidor.
O parlamentar enfatizou que, em 2025, o Itaú registrou um crescimento de lucros de 14%; o Bradesco, que lidera as demissões e fechamento de agências, teve seus lucros aumentados em quase 40%; e o Santander teve aumento de 27% nos lucros, todos relativos ao ano anterior. “Lucros bilionários, recordes sucessivos e, ainda assim, com demissões em massa”, criticou Marcos Henriques.

“Não se trata apenas de modernização ou digitalização, mas de uma estratégia empresarial de redução de custos humanos, com impacto direto no atendimento ao público e na qualidade do emprego. Esses fatos revelam uma negação histórica da responsabilidade social dos bancos”, declarou o vereador, salientando a importância da organização sindical, que denuncia irregularidades e defende a categoria, diante desse cenário.
“Nós conclamamos esta Casa e a ALPB para que possamos pressionar por políticas públicas que impeçam o fechamento indiscriminado de agências; que fortaleçam a bancarização em áreas carentes; que assegurem a requalificação profissional dos trabalhadores atingidos e que vinculem a lucratividade dos bancos com o compromisso social. Cada agência fechada é uma porta que se fecha ao cidadão. Cada demissão é uma família sem renda e um cliente atendido precariamente. Mas, cada mobilização, ato e sessão como esta é uma porta que abrimos para a esperança, solidariedade e a justiça social”, clamou Marcos Henriques, enfatizando que nenhum lucro é legítimo quando é construído com a negação de direitos.
A deputada Cida Ramos lembrou que a categoria bancária foi a primeira atingida pelos processos tecnológicos e de automação, que se estende por diversas outras, causando a precarização das relações de trabalho. Ela destacou que o setor bancário é um dos que mais lucra no país, porém não contribui com a responsabilidade social. “É um setor que lucra muito, que usa tecnologias que deveriam favorecer o bem-estar do usuário e criar melhores condições de trabalho para o bancário. Mas, no final, o que acontece é o inverso: a precarização das condições de trabalho, imposição de metas e exigências, criando uma guerra psicológica muito forte, principalmente nos cargos de chefia”, afirmou Cida Ramos, destacando também a precarização no atendimento ao público.
Cida Ramos enfatizou ainda a luta das pessoas com deficiência usuárias do sistema bancário. “Não existem intérpretes de Libras nas agências, temos que nos juntar à essa briga. Pessoas com deficiência auditiva não têm atendimento com intérprete, sala ou gerente específico para um atendimento mais humanizado e acolhedor”, denunciou a deputada, sugerindo mais regulação no setor. A parlamentar salientou também que, nos municípios, o que mais se pede é a instalação de agências bancárias pelo Estado.

A superintendente do Procon Estadual, Késsia Liliana, ressaltou que as demissões em massa de seres humanos não são só uma questão trabalhista, mas, acima de tudo, humanística. “Estamos tendo demissões em massa no setor bancário e os serviços estão sendo feitos por máquinas. Mas, isso compromete a qualidade e a confiança do consumidor em relação aos serviços bancários. Antes da pandemia, os serviços de água, energia e telefonia estavam no ranking das reclamações. Agora, as questões bancárias estão no topo do fluxo de reclamações. Se coloca tanta tecnologia e os golpes crescem assustadoramente. As ferramentas estão fragilizando a vida dos clientes. É necessário que estejamos, cada vez mais, cobrando e exigindo o respeito aos direitos dos consumidores. Os Procons estão sempre cuidando desses direitos relacionados ao consumo de cada cidadão”, asseverou.
O presidente do Sindicato dos Bancários da Paraíba, Lindonjhonson Almeida, enfatizou que a categoria bancária estava precisando de uma sessão especial para tratar dos problemas da categoria. “Precisamos defender a melhoria das condições de trabalho dos bancários para garantir o melhor atendimento à sociedade. Somos uma categoria com convenção coletiva nacional e bem organizada, mas os bancos não medem esforços para demitirem e para precarizar os serviços bancários. Vamos partir para os interiores para lutar e garantir uma agência bancária em cada cidade. Os bancos só pensam no lucro pelo lucro, e esquecem do social. Eles têm uma concessão pública e esquecem de seu papel social. Vamos lutar forte e marcar outras sessões, em outros municípios. Vamos cobrar lá em Brasília pelo compromisso social dos bancos”, arguiu.
O dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da Central Única dos Trabalhadores (Contraf-CUT), Rafael de Castro, revelou que está na luta pela categoria há 20 anos, e viu a mesma cair de 1 milhão de trabalhadores para pouco mais de 400 mil. “A categoria perde qualidade e sofre com a desestabilização da sua saúde mental, devido a tantas metas que precisam ser cumpridas. Os bancos só pensam no lucro e esquecem o lado social. Todos os bancos são públicos, estatais e privados. Tudo que é público tem função social. Não se pode fazer uma planilha sobre aumentar margem de lucro, sem pensar na qualidade de vida do trabalhador. Hoje em dia, além de demitirem têm que humilhar, com a alegação de falta de produtividade. Metas e mais metas sendo empurradas para os trabalhadores. Não somos máquinas, nos respeitamos e nos valorizamos. Não se pode ter mil pais de família demitidos com a alegação de falta de produtividade. Queremos retratação, taxas melhores e não fechamento de agência. Vamos brigar todos dias”, afirmou.

O presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores do Estado da Paraíba (NCST/PB), Antônio Erivaldo, defendeu que o povo precisa amadurecer politicamente para poder ocupar os espaços legislativos. “Deixo aqui a solidariedade da Nova Central Sindical da Paraíba. Lembro que a categoria dos bancários já foi almejada como plano de carreira, e hoje está ameaçada com o capitalismo selvagem e desumano, que atinge lucros de trilhões e cada vez mais escraviza a classe trabalhadora. O estresse toma conta desses trabalhadores, com a incerteza do dia de amanhã. Luta e mobilização. É hora de unidade para avançar nesta luta. Todas as centrais sindicais precisam se unir em prol dos bancários”, ensejou.
O coordenador da Comissão Nacional dos Funcionários do Banco do Nordeste do Brasil (CNFBNB), Robson Luís, afirmou que boa parte dos problemas no sistema bancário acontecem pela simples falta de regulamentação do Sistema Financeiro, que nunca foi regulamentado como preconiza a Constituição Federal (CF). “Há investimentos pesados em automação e outras tecnologias, e a Constituição Federal prevê que é direito do trabalhador a proteção em face à automação, na forma da lei. Precisamos regulamentar o inciso 27, do artigo sétimo, da CF. Não houve até agora a regulamentação, porque não há interesse, já que 90% da população é da classe trabalhadora, enquanto 80% dos parlamentares fazem parte da elite do país. O Congresso Nacional representa a elite do país. Precisamos da maioria do Congresso de gente trabalhadora para poder lutar pelas categorias dos trabalhadores do país”, destacou.
O presidente da Federação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro do Nordeste, Carlos Eduardo Bezerra, destacou que o crescente avanço da tecnologia e digitalização traz um preço social alto, com a perda de 90 mil postos de trabalho no sistema financeiro e o fechamento de 6.500 agências em 2012. “Ter bancários, ter bancos, ter presença, significa ter dignidade no papel do Estado. Os bancos e fintecs não são empresas comuns, seu sistema financeiro faz parte da soberania econômica. Não é à toa que somos serviço essencial. O fechamento de agências aponta risco sistêmico no frágil tecido de organização da proteção da saúde, vida e acesso à bens econômicos. Além dos lucros bilionários, precisamos ter a manutenção do emprego, manutenção e presença mínima de agências em cidades pequenas e médias, proteção dos consumidores e de seus dados pessoais”, declarou Carlos Eduardo, sugerindo que as instituições expliquem os prejuízos gerados aos usuários para que seja garantido um atendimento humano, inclusivo e democrático.

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